Lei que amplia acesso a tratamento contra doenças raras está parada na Câmara

São Paulo – Quase dois anos após ser aprovado no Senado e devolvido à Câmara, o projeto de lei que institui uma nova política nacional para doenças raras e amplia o acesso a tratamentos e medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) segue parado no Congresso. Estima-se que cerca de 13 milhões de brasileiros sofram de alguma doença rara e grave. Com a proximidade do dia mundial de conscientização sobre estas condições, 29 deste mês, famílias se mobilizam para tentar avançar a pauta entre deputados.

— Precisamos de outro olhar dos governantes. Os pacientes têm de chegar mais rápido a um centro de referência, além de novos polos de diagnóstico e menos burocracia. Muitas vezes a família não consegue um diagnóstico da doença ou a criança morre sem nem conseguir fazer um exame — conta Regina Próspero, vice-presidente do Instituto Vidas Raras.

Segundo o Ministério da Saúde, considera-se como doença rara aquela que afeta até 65 pessoas em cada cem mil, ou seja, 1,3 em cada 2 mil indivíduos.

A pesquisa por remédios, no entanto, pouco avança: são chamados de “medicamentos órfãos”, pelo pouco interesse da indústria farmacêutica.

Enquanto o assunto aguarda ação do Congresso, nas próximas semanas o Hospital Israelita Albert Einstein inicia um projeto que usará sequenciamento genético para o diagnóstico de doenças raras no serviço público de saúde das cinco regiões do país. Chamada de “Genomas raros”, a iniciativa tem a parceria do Ministério da Saúde, por meio do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS).

A ideia é que, até 2023, sejam sequenciados os genes de cerca de 20 mil pacientes com suspeitas de doenças raras no SUS.

— Cerca de 80% das doenças raras decorrem de fatores genéticos (o resto vem de causas ambientais, infecciosas, imunológicas etc). Aí entra o projeto. Como o SUS não dispõe de muitas ferramentas para estudar o genoma em pacientes, nem de ferramentas como o sequenciamento, algo poderoso para diagnosticar doenças raras, desenhamos um projeto com o ministério para dar assistência genética às pessoas com doenças raras no país — explica o imunologista João Bosco Oliveira, coordenador do projeto.

Avanço legal

Mãe de três filhos, Regina Próspero viu o mais velho, Nilton, morrer em decorrência de uma doença rara chamada mucopolissacaridose.

Depois veio Eduardo, que também nasceu com a doença. Ele chegou a perder a visão por conta disso, e tem problemas com mobilidade. Aos 28 anos, formou-se em Direito, ao lado da mãe, que prestou vestibular com ele.

— Venho de uma época em que não havia informação alguma. No passado, quando Dudu chegava em algum lugar, as pessoas não aceitavam, ficavam chocadas. Houve melhora e evolução sobre as doenças raras. Mas ainda estamos aquém do que precisamos — opina Regina.

A discussão do projeto de lei é destacada pelas famílias para fazer avançar o tema no âmbito legal.

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Em 2014, o Ministério da Saúde chegou a instituir uma portaria (199) que previa uma política de atenção para doenças raras. Ela ajudou a credenciar instituições de referência para atendimento de pacientes e a incorporar novos exames de diagnósticos no SUS.

A ideia, agora, é fortalecer a garantia em lei e ampliar o acesso dos pacientes ao atendimento público. A demora até um diagnóstico preciso pode levar anos.

— Ainda faltam agilidade no encaminhamento e financiamento para diagnóstico em famílias que não podem pagar por um exame efetivo — reforça Regina.

Fonte:
https://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/lei-que-amplia-acesso-tratamento-contra-doencas-raras-esta-parada-na-camara-24274065.html

Como participar

Pacientes brasileiros que atendam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para cada patologia e sob seguimento em um centro de referência de doença rara do SUS podem participar da pesquisa.

Os pacientes devem procurar atendimento nos centros de referência de doenças raras credenciados pelo Ministério da Saúde (consulte a lista), e discutir com o seu médico se a participação no projeto é adequada. Uma vez que o profissional responsável de cada instituição participante identifique um paciente com os critérios de inclusão, a ele será oferecido um Termo de Consentimento Livre e esclarecido para que ele tenha a oportunidade de participar do projeto “Genoma Raros”.